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"O tempo"

Publicado em 18/12/2023

Por: William Koury Filho

Prezados leitores, na última coluna do ano, resolvi abordar um tema mais filosófico, que tem tudo a ver com melhoramento genético: vamos falar do valor do tempo.Sobre 2023, ano frustrante no âmbito da política nacional e difícil para a pecuária, citarei o filósofo Friedrich Nietzsche: “Quem luta com monstros deve velar porque, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.”

Meus amigos, confesso que gosto muito do fim e do começo do ano, é quando baixo o ritmo de viagens e tenho mais tempo de estar com minha família e planejar a vida – pessoal e profissional. Imagino que seja assim para a grande maioria também, afinal de contas é quando terminamos um ciclo e começamos um novo ano, uma nova oportunidade de realizarmos aquilo tudo com que sonhamos.

O trágico e paradoxal é que fico ansioso para o ano passar rápido, para chegar a esse período e perco a lucidez da percepção que, quando passa, é um ano a menos de vida que tenho. O fato é que, depois dos 50 anos, a percepção do valor de cada dia, cada mês e cada ano muda; pelo menos para mim, foi marcante essa passagem. Como dizem nos EUA, “over the hill”, que significa: sobre o morro. Pois é, essa expressão se dá quando chegamos ao ponto de inflexão da curva da vida – desse ponto para frente é a descida quando nos aproximamos do final de uma jornada.

Quando jovens, somos muito ansiosos para realizarmos nossos sonhos. Na maturidade, ficamos mais serenos e sofremos menos com a velocidade com que as coisas acontecem e descobrimos que os problemas, na maioria das vezes, são muito menores que os monstros que criamos – entendemos que devagar não é uma maneira ruim de chegar longe.

E o que o tempo tem a ver com melhoramento genético? Tudo, já que o ganho genético costuma ter uma relação direta com o intervalo entre gerações. Sendo assim, quanto mais acelerarmos o processo de seleção, identificando mais cedo touros e matrizes para reprodução, maior será o progresso genético que teremos. Para ajudar, a genômica permite identificarmos animais geneticamente superiores cada vez mais jovens e, com biotecnologias como FIV e IATF, é possível multiplicar esse material genético.

No meio do meu doutorado, lá pelos meus 30 anos, muito antes dos 50, portanto, antes de estar em cima do morro, eu olharia para este cenário e ficaria realmente excitado com as possibilidades e ansioso para pisar fundo no acelerador.

Porém, agora, com a maturidade, e olhando a vida de cima do morro, penso que é preciso equilibrar a medida entre multiplicar uma bezerra e uma vaca com crias superiores, assim como usar reprodutores jovens equilibrando com touros provados.

Creio que seja importante andar rápido, mas com a segurança de não capotar ou rodar numa curva.

Em tempos de supervalorização de índices genéticos, as centrais são ávidas por contratar touros jovens, cabeceira de sumário, num caminho que tem a pecuária leiteira, mais precisamente a raça holandesa, como grande referência em tecnologias capazes de identificar animais superiores muito cedo. Uma diferença grande é que os sistemas de produção para o holandês são próximos em diferentes lugares do planeta, muito diferente da pecuária de corte que praticamos no Brasil, com a diversidade de sistemas de produção e grande influência da interação genótipo ambiente.

Quando falamos de seleção, sempre queremos acelerar o máximo possível, mas não podemos perder o rumo. Se não estivermos na direção correta, quanto mais rápido nosso passo, mais longe ficaremos do nosso objetivo. Feliz Natal para todos e um 2024 repleto de realizações. É isso aí! Vamos que vamos!