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Publicado em 31/03/2021
Por: Guilherme Faria Costa
Olá meus amigos, espero que estejam bem, nesses tempos acinzentados pelos quais passamos uma palavra de afeto e alguma distração, além do trabalho, nos ajudam a colorir a vida e seguir sem endoidarmos. Por falar em cores e matizes, neste mês trago um tema colorido, vamos tratar da pelagem em bovinos.
Os Auroques, ancestrais dos bovinos modernos, eram originalmente de duas cores, as fêmeas eram castanho-avermelhadas e o machos castanho-pretos, ambos os sexos tinham uma faixa dorsal clara e a boca branca. Durante e após o processo de domesticação, mutações, seleção natural e artificial criaram uma gama de cores e padrões variados. Essas mutações e mudanças nas cores originais dos Auroques já podiam ser notadas em 2.000 a.C., pinturas rupestres no Saara mostram bovinos com padrões de cor que já saíam do castanho escuro.
Os parentes selvagens dos modernos bovinos, assim como alguns domésticos, ainda apresentam padrões de cores mais monocromáticas e/ou na tonalidade castanha, diferindo apenas no sexo a intensidade da cor. Bisões e búfalos, assim como os iaques selvagens, apresentam matizes com pouca variação do castanho ou preto; o Banteng do sudeste asiático ainda é encontrado na cor dos Auroques, sendo os machos castanho-escuros e as fêmeas e filhotes castanho-avermelhados.
Os padrões de cores, muitas vezes, já estavam estabelecidos há muito tempo, pois era comum que, além de gostos pessoais dos próprios criadores, as cores também tivessem significância religiosa e cultural. Raças italianas brancas eram preferidas nos tempos romanos, pois um touro branco era oferecido em sacrifício a Mitras; os celtas tinham preferência por animais de cor negra e por animais de cor branca, por exemplo. No século XIX, com a criação dos livros de registro genealógico (herd books), decidiu-se pela permissão de apenas um ou no máximo poucos padrões de cores para cada raça, pois assim se promoveria um fácil reconhecimento. A partir dos herd books, os padrões de cores passaram a ser chamados de pelagens, que são o conjunto de pelos, de uma ou diversas cores, espalhados pela superfície do corpo e extremidades, em distribuição e disposição variadas, cujo todo determina a cor do animal – seria equivalente à nossa cor do cabelo. As nomenclaturas para cada pelagem sofrem uma interferência muito grande da língua de cada país, principalmente dos regionalismos, isso quer dizer que: dentro de um mesmo país, dentro da mesma língua, um tipo de pelagem pode ser nomeado de duas ou mais formas conforme a região. Exemplo disso é a pelagem com o padrão tigrado (lembra as listras de um tigre), em algumas regiões do Brasil se nomeia araçá e em outras brasino.
A pelagem é uma característica muito fácil de se reconhecer e para muitas raças é um ponto de definição, sendo que muitos criadores a utilizam como um critério de seleção. Característica qualitativa, determinada e controlada por poucos pares de genes e pelas interações dos mesmos, se fundamenta em cores bases, de maneira que os genes atuando em cima dessas geram novas cores e matizes. A base da cor da pelagem em bovinos e em todos os mamíferos é a presença ou ausência de melanina no pelo. Nos mamíferos são encontrados dois tipos de melanina: a eumelanina, responsável pelas cores escuras (preto e marrom); e a feomelanina, responsável pelas cores claras (castanho avermelhado, vermelho, acobreado e amarelo).
A cor dos animais também tem significância adaptativa ao meio. Além de no passado servir como camuflagem contra predadores, a cor do pelo interfere na tolerância do animal à radiação solar. Animais de cores mais claras, cujas pelagens absorvem menores quantidades de radiação, são considerados mais bem adaptados ao calor que animais de cores mais escuras, cujas pelagens absorvem maiores quantidades de radiação.
Os alelos que modulam as cores das pelagens dos bovinos podem ser divididos em dois grupos, os de variações a partir do padrão de cor do tipo selvagem e as mutações de manchas brancas. O tipo selvagem é um animal solidamente pigmentado, castanho avermelhado e sem manchas. Dentro dos dois grupos, o de variações e o de mutações, existem entre os alelos relações de dominância, codominância e recessividade. Os tipos de alelos presentes no primeiro grupo são: ED (alelo para a cor preta), E+ (alelo do tipo selvagem), e (alelo para a cor vermelha), Br (alelo para o brasino/araçá), Abp (alelo aguti para padrão enegrecido), aw (alelo aguti para o ventre branco), ai (alelo aguti para fulvo), Dn (alelo para a cor parda), Dc (alelo de diluição de cor do Charolês) e Ds (alelo de diluição de cor do Simental). No segundo grupo, o de alelos mutantes, se apresentam os seguintes: SH (alelo do padrão de manchas Hereford), SP (alelo do padrão de manchas Pinzgauer), s (alelo do padrão de manchas recessivo), R (alelo do padrão rosilho), Bt (alelo do padrão cintado), Bl (alelo do padrão de cara branca), Bc (alelo do padrão de pernas pigmentadas) e Cs (alelo do padrão colorido).
As variações e mutações se combinam e geram todas as tonalidades e matizes que conhecemos dentro das raças bovinas. A partir daí as pelagens são agrupadas em três classes: pelagens simples – pelos de apenas uma coloração (vermelho, preto e branco); pelagens compostas/duplas – pelos de duas cores diferentes (chitado, rosilho, mouro, jaguané, preto e branco, vermelho e branco); e pelagens conjugadas/triplas – pelos de diferentes cores, muito comum em raças crioulas.
O sexo e a idade também modulam a tonalidade da cor do animal, machos tendem a ter tonalidades mais escuras devido à testosterona; quanto à idade, dentro de alguns padrões de cores os animais nascem mais escuros e vão clareando com o passar dos anos, em outras ocorre o contrário, os animais vão escurecendo, mas em idades mais avanças tornam a clarear, vão ficando ruços (grisalhos). A maioria das variações das cores básicas ocorre devido à perda ou ao clareamento da pigmentação.
Então, a essa altura de nossa crônica, está na hora de explicar o porquê do nome da coluna. “AZULEGA” é um tipo de pelagem que aprecio muito, ainda mais em Nelore quando associada à pele toda preta; se trata da mescla de pelos pretos e branco dando a impressão de azul, outro nome para ela é moura.
Bem, meus amigos, vou encerrando por aqui mais um de nossos contos. Aqui de uma forma bastantes simples quero deixar a vocês a ideia de que mesmo vários animais tendo cores muitos próximas que aos olhos podem parecer idênticas cada um é uma pintura particular que a natureza engenhou e produziu. Muitas das relações entre os alelos ainda não estão especificadas, por isso a ciência continua tendo o que avivar e nós o que admirar. Um abraço e até outra hora!