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CARACTERIZAÇÃO RACIAL É RELEVANTE?

Publicado em 15/06/2022

Por: William Koury Filho

Prezados leitores, o tema desta co­luna é oportuno para o mês que marcou a volta da ExpoZebu pre­sencial, a maior feira de zebuínos do planeta que acontece no parque Fer­nando Costa, em Uberaba (MG). O evento foi um grande sucesso – creio que todos estávamos ansiosos para po­der rever e abraçar os amigos da pecuá­ria.

Este ano, estive na ExpoZebu com a missão de julgar o Tabapuã, oportuni­dade de ver com detalhes como a raça está se apresentando em pista, e tam­bém de observar as demais raças zebuí­nas presentes no recinto de avaliações Torres Homem Rodrigues da Cunha, a mais famosa pista de julgamentos do Brasil.

No julgamento devem ser observa­das todas as características morfológi­cas do animal de forma detalhada. Des­de as características funcionais como cascos, aprumos, umbigo e sexuali­dade, até as características de biotipo relacionadas a proporções corporais que definem a “carcaça” in vivo, com­plementando com as características relacionadas ao padrão racial descrito pelas associações de raça – no caso dos zebuínos pela ABCZ (Associação Bra­sileira de Criadores de Zebu).

Julgamentos nunca agradam a todos, mas os critérios adotados pelos juízes devem ficar claros para que os criado­res participantes se sintam mais segu­ros dos rumos que a raça deve tomar em pista e de que o resultado foi justo.

Como jurado sempre procurei rea­lizar um trabalho em pista buscando identificar os animais que melhor de­sempenhariam sua função produtiva nos sistemas de produção praticados no país, e creio que, junto com meus colegas, conseguimos deixar isso cla­ro no julgamento do Tabapuã. Como observação geral da pista de Uberaba, é visível que várias raças zebuínas es­tão trilhando esse caminho: algumas aproximam mais essas duas realidades distintas, pista e campo; outras seguem mais distantes como a raça de maior expressão no país, o Nelore, que apre­senta animais exageradamente grandes.

Bem, mas voltando ao título da coluna, seguirei com a sequência das características avaliadas pelo EPMU­RAS, desta vez para conceituar a im­portância de se complementar a sele­ção com as características relacionadas ao padrão racial.

O primeiro ponto que tem que estar claro é que, quando nos referimos à Raça, estamos falando não somente de características estéticas, mas também de características funcionais relacio­nadas ao padrão racial descrito pelas associações. Por exemplo: nos zebuí­nos, o pregueamento de barbela é parte do padrão. Essa sobra de couro situada abaixo do maxilar e que se estende até a maçã do peito, aumenta a superfície corporal do animal, contribuindo para termorregulação corporal e, portando, faz parte da morfologia mais adapta­da do zebu para ambientes tropicais. É notório que, ao entrar em estresse térmico, o animal perde em eficiên­cia reprodutiva. O cupim também não é simplesmente um “ornamento” em forma de castanha de caju sobre a cer­nelha dos zebuínos. Essa parte tem a função de acumular lipídios, gordura, que servirão de reserva de energia para um momento de escassez de alimentos. E assim podemos falar da importância da pigmentação, da fortaleza da linha dorso-lombar, da angulação de garupa, comprimento e correção do “osso sa­cro” e até dos olhos elípticos que são mais protegidos quando comparados aos olhos mais arredondados e salien­tes encontrados nos taurinos.

Quando se fala em características raciais, existem alguns detalhes de cor­po que diferenciam as raças, mas lem­bramos principalmente das diferenças na pelagem e na cabeça dos animais – formato de crânio, orelhas, etc.

Para avançarmos nessa conversa, devemos recordar que todos os bovi­nos descendem do mesmo ancestral co­mum, o bos primigenius. Dessa forma, inicialmente, as diferenças genéticas nos bovinos se deram por isolamento geográfico e fixação de características adaptativas, pura seleção natural, em que sobrevivem e multiplicam-se so­mente os genes mais “fortes”. Da mes­ma maneira que os seres humanos que foram para África, Ásia, Europa, Ocea­nia e Américas tinham suas diferenças fenotípicas, o mesmo aconteceu com os primeiros bovinos, que posteriormente passaram pelo processo de domestica­ção e, na sequência cronológica, pela seleção artificial, em que por função e ou simplesmente estética foram ad­quirindo características particulares até formarem as cerca de 1000 raças bovi­nas catalogadas atualmente.