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Publicado em 15/04/2021
Por: William Koury Filho
Caros leitores, acompanhando os debates sobre genética nas lives e em grupos de WhatsApp neste primeiro trimestre de 2021, fui inspi-rado a escrever, mais uma vez, sobre os tais índices de seleção praticados nos programas de melhoramento.
Parece existir um grande desconforto dos criadores – pelo menos, dos que entendem sobre avaliações genéticas e genômicas. Até os pesquisadores alertam sobre a limitação na utilização dos índices de forma generalizada nos debates.
Você deve estar se perguntando: se os índices apresentam essa limitação, então por que são tão utilizados e valorizados pelo mercado?
A resposta é simples: porque não existe outra forma de definir um rumo geral de seleção para rebanhos participantes de um programa de melhoramento genético. Além disso, o Ministério da Agricultura (Mapa) exige que cada programa apresente um índice para avaliar o progresso genético.
Quanto ao mercado, o homem tende a buscar o conforto naquilo que dá menos trabalho. Os índices buscam uma solução única para este imenso Brasil e suas grandes diferenças, mesmo que, na realidade, cada rebanho tenha suas particularidades.
Mas o que são índices de seleção? É uma ponderação de diferentes características. Comparando com adubação, é como pegar uma fórmula de mistura de nutrientes comercial generalizada e utilizar na propriedade. O Super simples ou Superfosfato simples (SPS), por exemplo, é um fertilizante mineral que apresenta a maior amplitude de oferta no mercado. Em linhas gerais, apresenta de 18% a 21% de fósforo (P), 16% de Cálcio (Ca) e entre 10% e 12% de Enxofre (S). Outro exemplo de formulação comum e generalista – como se fosse outro índice – é o adubo mineral NPK 4-14-8, que fornece 4% de nitrogênio (N), 14% de fósforo (P) e 8% de potássio (K).
Ambas são formulações simplificadas e apresentam resultados, porém estão muito aquém de uma análise de solo e de se adequarem às necessidades das áreas e das culturas produzidas no conceito de agricultura de precisão.
E qual a fórmula dos índices? Como exemplo, vamos nos ater aos três mais utilizados em rebanhos PO para a raça Nelore – lembrando que existem, pelo menos, 11 ponderações diferentes nos programas oficializados pelo Mapa só para a raça.
Comecemos pelo índice da Associação Nacional de Criadores e Pes-quisadores (ANCP). Conhecido como Mérito Genético Total econômico, o MGTe pondera 6% DIPP + 9% D3P + 3% MP120 + 5% MP210 + 16% DP210 + 24% DP450 + 22% DSTAY + 3% DPE365 + 3% DPE450 + 9% DAOL (IPP: idade ao primeiro parto; 3P: probabilidade de parto precoce; MP120: maternal para peso aos 120 dias; MP210: maternal para peso aos 210 dias; P210: peso aos 210 dias; P450: peso aos 450 dias; STAY: stayability; PE365: perímetro escrotal aos 365 dias; PE450: perímetro escrotal aos 450 dias; AOL: área de olho de lombo).
O índice Embrapa – Geneplus é conhecido como Índice de Qualificação Genética ou IQG e pondera 7% PD + 14% TMD + 10% PS + 14% GPD + 20% HP/STAY + 10% PES + 5% IPP + 10% AOL + 10% EGS (PD: peso à desmama; TMD: total maternal à desma-ma; PS: peso ao sobreano; GPD: ganho de peso pós desmama; HP/STAY: habilidade de permanência/stayability; PES: perímetro escrotal ao sobreano; IPP: idade ao primeiro parto; AOL: área de olho de lombo; EGS: espessura Tropicalde gordura subcutânea).
E o índice do Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos, o PMGZ é denominado iABCZ e pon-dera 5% PM-EM + 5% TMD + 15% PD-ED + 10% PA-ED + 15% PS-ED + 5% PE365 + 15% IPP + 30% STAY (PM-EM: peso à fase materna - efeito materno; TMD: total materno à desmama; PD-ED: peso à desmama - efeito direto; PA-ED: peso ao ano - efeito direto; PS-ED: peso ao sobreano - efeito direto; PE365: perímetro escrotal aos 365 dias; IPP: idade ao primeiro parto; STAY: stayability).
Ou seja, no Brasil os vários progra-mas com a raça Nelore e a “sopa de letrinhas” que definem as DEPs dificulta o entendimento da grande maioria dos pecuaristas. Para se formular um adubo, é necessária consultoria de um engenheiro agrônomo, que irá conhecer a área, requisitar uma análise de solo em laboratório competente, estudar os cultivares possíveis de serem agricultados naquela altitude, avaliar a temperatura e o regime de chuvas, fazer uma cotação de preço e aí, munido de todas as informações e apto a interpretá-las, definirá a compra de semente e os tratos culturais.
E como a escolha de touros é feita pelo pecuarista? Os índices genéticos viraram moeda de venda e, quanto menos entende o produtor, mais vai se guiar pela solução simples – o índice – que é falado e vendido em leilões, fazendas e centrais. Claro que é uma informação válida, mas o duro é que está longe de ser uma verdade absoluta, precisa de interpretação. Em minha opinião, vender semente sem avaliação genética está com os dias contados, mas a bula (informações ao comprador) tem que evoluir. E, se o pulo do gato é a interpretação das avaliações, contrate um médico, quero dizer, um técnico. É isso aí. Vamos que Vamos!