Olá meus amigos, viagens internacionais se mostram hoje um pouco complicadas pela atual conjuntura em que nos encontramos, mas viajar por contos e histórias ainda é bastante possível e cômodo. Na crônica de maio, vamos rumar longe, para além do Atlântico, chegando à França e à Aquitânia, onde teremos um encontro com o Blonde D‘Aquitaine.

O tipo bovino que originou o Blonde D‘Aquitaine já era referenciado desde 600 d.C., quando seus ancestrais eram escolhidos para trabalho. Nas condições formadoras de seu sítio de origem, com topografia bastante acidentada, de vegetação rala, solos fracos e pedregosos, e de grande variação térmica, surgiu um bovino resistente, de grande tamanho e massas musculares poderosas. A raça Blonde em si, com livro de registro genealógico e padrão racial estabelecido, foi criada em 1962 a partir de outras três raças que se encontravam na região sudoeste da França: a Garonnaise (Garonesa), a Quercy e a Blonde des Pyrénées (Blonde dos Pirineus).

A Garonesa, de Lot-et-Garonne, conhecida como Garonesa da Planície (Garonnaise de Plane), foi a mais importante na formação do Blonde. Raça de animais grandes, de chifres voltados para baixo, pelagem vermelha clara e pele rosada, descende de um antigo tipo bovino de pelagem amarela avermelhada que era nativo da Aquitânia, entre os rios Lot e Garonne. A peste bovina que atingiu a Europa, em 1775, impactou severamente a raça; sua reconstituição foi feita por populações remanescentes que resistiram à peste, e por animais Limousin, Salers e Blonde dos Pirineus.

As outras duas raças, a Quercy, de Tarn-et-Garonne – conhecida como Garonesa da Colina (Garonnaise de Côteau), que era uma raça de montanha com grande influência de Limousin – e a Blonde dos Pirineus – muito semelhante em pelagem e com mucosas claras – terminaram de fechar o pacote do Blonde D‘Aquitaine. A iniciativa da junção das três raças, que até então eram distintas, deu-se em 1960 quando os efetivos de cada uma foram considerados muito pequenos para a contínua melhora das mesmas, procedendo então com a formação do Blonde.

O Blonde D‘Aquitaine é uma das três maiores e mais famosas raças francesas especializadas na produção de carne. São animais de grande porte, com possantes massas musculares, esqueleto forte de ossos finos e alto rendimento de carcaça. Possui altos índices de ganho em peso e alta capacidade de conversão alimentar. Portadora de genes para dupla musculatura, dentre suas semelhantes, é a raça que tem menos problemas com distocia.

Fora de sua pátria, é muito utilizada na Espanha, Portugal, Reino Unido e Irlanda. Na França, além do estado puro, de cruzamentos terminais, também formou o INRA 95 (Charolês, Limousin e Blonde). No Brasil, a raça teve seu primeiro desembarque no Rio Grande do Sul em 1974, com o touro Intelligent, sendo este o primeiro animal inscrito no herd book nacional. Desfrutou de grande fama e uso nas terras deste lado do Atlântico no início dos anos 2000 com o advento do cruzamento industrial. Em nossas paragens formou 3 raças sintéticas: a Aquitânica (5/8 Blonde e 3/8 Caracu), a Tropicana (5/8 Caracu e 3/8 Blonde) e a Blonel (5/8 Nelore e 3/8 Blonde).

“Comme toujours” (como sempre), aqui cabe a explicação do nome que atribuí à coluna. “LOIRA AQUITÂNICA” é a tradução literal do francês do nome que a Blonde D‘Aquitaine recebeu quando foi formada. A principal característica em comum entre as três raças, a pelagem amarela avermelhada, ou seja, loira.

Bem, meus amigos, já retornando à nossas casas, depois dessa breve viagem, vou encerrando nosso passeio pela terra mãe de Montesquieu. Uma vez eu li que “aquele que lê vive mil vidas antes de morrer”; diria que também viaja a mil lugares e conhece mil afins. Espero que com este pequeno relato, um pouco sobre o Blonde D‘Aquitaine tenha sido passado. Um abraço e até outra hora!