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Publicado em 29/04/2021
Por: Guilherme Faria Costa
Olá meus amigos, o ano já vai avançando e enquanto redijo esta crônica, praticamente um terço de 2021 já se passou. A BovinoCULTURA, com esta edição já completa 12 publicações. Por falar em tempo, os bovinos, assim como os demais animais domésticos, já se encontram na companhia humana há milênios. Por isso, em abril, falo sobre a domesticação do gado.
O gado doméstico tem como sua forma primitiva e ancestral direto, o Auroque (Bos primigenius). Os primeiros auroques eram nativos de áreas quentes que abrangiam desde o Turquestão, até os desertos e regiões áridas da Índia e da Arábia. Eram animais de porte muito grande, em que os machos atingiam de 180 a 200 cm de altura, com chifres de até um metro; as fêmeas, um pouco menores, atingiam de 150 a 170 cm de altura.
Durante as glaciações os animais iam e vinham conforme o gelo aumentava ou diminuía, e somente depois da Grande Era Glacial, cerca de 250 mil anos atrás, que os auroques se espalharam definitivamente de sua área original, para outras grandes áreas do globo: a leste para a China e a oeste para o Oriente Médio, norte da África e Europa.
Essa disseminação foi tão grande que, há 12 mil anos, a espécie selvagem era encontrada da Escócia até a Península da Coréia, passando por todo Mediterrâneo e pelo Subcontinente Indiano. A grande distribuição ocasionou a formação de subespécies geograficamente distintas, estas subespécies compreendiam o Bos primigenius opisthonomus do norte da África; o Bos primigenius primigenius, da Europa e Oriente Próximo; e o Bos primigenius nomadicus, do Subcontinente Indiano e leste da Ásia.
A partir daí, posteriores diferenciações e a domesticação conduziram aos tipos bovinos que conhecemos hoje como: TAURINOS (Bos taurus taurus), provenientes do B. p. primigenius e do B. p. opisthonomus; e ZEBUÍNOS (Bos taurus indicus), que derivaram do Bos p. nomadicus. Os taurinos se desdobraram em novas subespécies domesticadas – Bos t. primigenius, Bos t. brachyceros, Bos t. frontosus e Bos t. aceratus.
Os taurinos e zebuínos divergiram geneticamente há mais de 140 mil anos (alguns estudos sugerem mais tempo ainda), ou seja, muito antes da domesticação. Os primeiros são nativos de regiões mais úmidas e temperadas, da Eurásia e norte d África; já os segundos assim como seus mestiços com taurinos localizam-se predominantemente em regiões mais áridas e tropicais. Estando em diferentes localizações e com essa grande dispersão, foi natural que ocorressem domesticações isoladas da mesma espécie, em centros distintos.
A domesticação teve como centros iniciais duas regiões: a região do Crescente Fértil (englobando parte da Turquia, Síria e Iraque), como mais antiga, datando de 8.800 a 8.300 a.C.; berço da domesticação taurina; e a segunda região, a do Vale do Indo (Paquistão), berço da domesticação zebuína, mais recente que a primeira em mil e quinhentos anos. Os sítios arqueológicos de Çatal Hüyük (Anatólia, Turquia) e o de Mehrgarh (Paquistão) são dos mais antigos centros de domesticação existentes. Na África, os taurinos chegaram antes (7 mil anos atrás) que os zebuínos (4 mil anos atrás), como evidenciado por achados arqueológicos.
A domesticação de plantas e animais, se não foi o maior, com certeza foi um dos maiores eventos de repercussão da humanidade. A domesticação não é uma qualidade imbuída por treinamento, mas sim implantada em uma população ao longo de gerações. Alguma mutação associada ao DNA levou os animais a sentirem menos medo dos seres humanos e a se aproximarem deles, isso beneficiou a domesticação de animais grandes como os bovinos. O resultado disso, além de trabalho, carne, leite e pele para os seres humanos; foi o favorecimento de mutações aleatórias relacionadas às características físicas, que seriam logo eliminadas na vida selvagem, como a pelagem manchada.
Fatores que determinaram a domesticação dos bovinos foram sua dieta, a taxa de crescimento da espécie, a procriação em cativeiro, a índole, limites de tendência ao pânico e a estrutura social. Tomando dessas preposições, os seres humanos, com a domesticação, também modificaram características dos auroques para o gado doméstico. Além da redução do tamanho corporal, houve a redução do número de vértebras, ossos mais finos e quebradiços, grande variação nos chifres, cores e padrões de cores, diminuição do peso do cérebro, menor dimorfismo sexual, maturidade sexual mais precoce e desaparecimento da estação de procriação.
Mas por que então “O MELHOR AMIGO DO HOMEM” nesse caso não é o cachorro? Vou lhes explicar melhor porque tenho esta opinião quantos aos bovinos. Apesar de uma relação homem-animal menos afetuosa, do que a que foi estabelecida, por exemplo, com cavalos e cães, os bovinos se tornaram a espécie de animal doméstico mais importante fornecendo leite, carne, pele e trabalho, além de muitos outros produtos. Seu papel nas relações sociais, cerimônias, rituais e jogos dão ao gado um lugar central na cultura humana, e isso para mim basta como amostra de que eles há quase 11 mil anos se provam como nossos melhores amigos.
Bem, meus amigos, por aqui, já vou findando mais este nosso relato. O tempo tem dessas vantagens, de uma maneira bem sucinta, resumi mais de 10 milênios de história e convívio em algumas páginas. Espero que lhes tenha agregado um pouco mais sobre a origem desta espécie que há muito faz por nós e que há tempos faz parte do nosso patrimônio cultural. Um abraço e até outra hora!
Bos primigenius – O Auroque |