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"O óbvio e o obtuso na Expogenética 2023"

Publicado em 15/09/2023

Por: William Koury Filho

Prezados leitores, na coluna do mês passado, um dos temas abordados foi o preparo excessivo dos animais para venda. Também foi comentado sobre o impacto de turbinar os sistemas de produção na pecuária seletiva e qual pode ser o reflexo dessas grandes diferenças ambientas no resultado da pecuária comercial.

O conceito acima parte da premissa de que, para maior garantia de resultados na pecuária comercial, o mais adequado é adquirir reprodutores selecionados em sistemas de produção próximos àqueles nos quais serão criados os seus filhos e filhas.

Isso reforça a existência da interação genótipo-ambiente, na qual determinados genótipos que desempenham bem no ambiente “X” podem não ter o mesmo resultado no ambiente “Y”.

Em conversa com Eduardo Cardoso, da Fazenda Mundo Novo, a reflexão vai além: “será que o trato não distorce as avaliações genéticas?”. O que está sendo questionado é se as próprias avaliações genéticas poderiam ser privilegiadas em sistemas de produção que permitem maior ganho em peso.

Essa não é uma conversa fácil de travar com melhoristas: teoricamente, os modelos matemáticos deveriam isolar os efeitos ambientais e, realmente, predizer os valores genéticos, ainda mais quando se utiliza a genômica, que faz com que os desempenhos próprios influenciem menos os resultados.

Eu, como melhorista, prático, penso que estamos tendo, sim, resultados enviesados nas avaliações genéticas em função dos ambientes muito distintos, mas também tenho convicção de que as DEPs são as melhores ferramentas de seleção atualmente.

No entanto, é fundamental interpretálas corretamente e considerar o olho técnico nesse processo, dando importância não só aos dados de desempenho fenotípico em grupos de manejo bem formados, mas também analisando os aprumos, umbigo, raça e, principalmente, conformação frigorífica – considerando ainda dorsolombo, conformação de garupa, osso sacro e inserção de cauda. O que tenho observado é que acasalamentos dirigidos e seleção somente no computador, sem avaliar os animais, têm resultado em muitos defeitos morfológicos que comprometem a qualidade e o aproveitamento dos reprodutores.

E a Expogenética, o que tem a ver com os conceitos acima?

Para começar, devemos dar os parabéns para a ABCZ pela feira, que segue como a maior e melhor exposição de genética avaliada do Brasil - e creio que do mundo.

Os pavilhões dos criadores estão cada vez mais bonitos; o gado, com apresentação de gala. Opa! Como assim apresentação de gala? Estamos falando de uma feira de gado avaliado; teoricamente, o que importa são as avaliações genéticas. Então, por que o gado tem de estar tratado?

Primeiro, porque não é adequado tirá-lo do pasto e levá-lo diretamente para os pavilhões. Os animais devem estar mais custeados, ou seja, mais mansos para minimizar a chance de acidentes e de não se adaptarem aos currais e movimento das pessoas na feira. Não há nada melhor para amansar que cocho e banho. E mesmo os indivíduos mansinhos precisam aprender a comer e a beber água no cocho.

Devemos aprender a analisar animais menos e mais bem apresentados, mas não valorizar o obeso. Para isso, será muito importante haver a conscientização do mercado. Lembrando que o obeso compromete até a questão reprodutiva, que é fundamental para que a genética seja multiplicada. Assim, devemos ter um limite no preparo até para ir a uma “festa de gala”.

Fiquei muito contente com a valorização do equilíbrio de avaliações e morfologia nessa Expogenética, e não simplesmente dos números. De qualquer maneira, meu caro amigo, que ao analisarmos um animal, ou mesmo um papel com genealogia e avaliações genéticas, atentemos ao que realmente estamos vendo e também àquilo que não vemos; existem informações importantes nas entrelinhas. É isso aí! Vamos que vamos!