Saiba mais sobre tudo que rola no mundo da pecuária!
Publicado em 17/08/2022
Por: William Koury Filho
Prezados leitores, finalizando a sequência de colunas que abordou cada uma das sete características morfológicas avaliadas pelo EPMURAS, chegamos à Sexualidade.
Conceitualmente, definimos sexualidade como masculinidade (nos machos) e feminilidade (nas fêmeas), avaliando as características sexuais secundárias, que são indicadoras de maior ou menor fertilidade, isso porque tudo que ocorre na fisiologia do animal é exteriorizado em seu fenótipo.
Este é um assunto interessante, contemplado há tempos na Zootecnia e que tem como principal referência o sul-africano Dr. Jan Bonsma, que esteve como professor em importante universidade na África do Sul e também nos Estados Unidos. Bonsma deixou obra riquíssima sobre essa temática, associando fertilidade com adaptabilidade ao meio ambiente, no caso, ao sistema de produção.
Em sua linha de pesquisa, o especialista quantificou parâmetros hormonais e relacionou com a morfologia, comparando o desequilíbrio fisiológico às modificações que acontecem no fenótipo dos animais. Dr. Bonsma esteve, no Brasil, mais de uma vez, sendo que a visita de maior repercussão aconteceu na Fazenda Mundo Novo - à época situada no município de Brotas (SP) - no ano de 1982. Nessa ocasião, conceitos importantes foram assimilados pela família Cardoso e incorporados na seleção do Nelore Lemgruber.
Dentre os muitos técnicos e criadores que acompanharam a visita, o engenheiro agrônomo e zootecnista Ubaldo Olea, grande jurado das raças zebuínas, foi quem mais assimilou o conhecimento do sul-africano, tornando-se, portanto, referência sobre o tema em terras brasileiras. Ubaldo tinha uma sensibilidade diferenciada e impressionava muita gente fazendo uma resenha da vida reprodutiva de uma matriz através dos sinais morfológicos observados nos anéis nos chifres, maçã do peito, além de balanço entre anterior e posterior, desenvolvimento e posicionamento de vulva, tetas e até textura do pelo - entre outros detalhes.
Na fêmea, a feminilidade que buscamos está relacionada à cabeça seca e delicada, ao pescoço também delicado, ao cupim sem exagero e bem posicionado sobre a cernelha, à frente leve e ao posterior mais volumoso, além de desenvolvimento de tetas em idade jovem e vulva também com bom desenvolvimento e posicionamento.
Nos machos, buscamos chanfro curto, cara enrugada, goteira pronunciada na raça Nelore e fronte mais robusta (distância entre olhos), pescoço forte, cupim desenvolvido, massas musculares desenvolvidas (não “batidas”) e testículos também desenvolvidos e bem conformados.
As avaliações morfológicas para sexualidade não substituem o exame andrológico nos machos nem o exame ginecológico nas fêmeas. Como dizemos no futebol: o que vale é bola na rede. Ou seja, é indispensável desafiar as fêmeas na estação de monta mantendo aquelas que saírem prenhes; nos machos, o mesmo critério: ficam valendo os touros emprenhadores, aqueles que produzem sêmen de qualidade e apresentam boa libido.
Porém, em diversos momentos, não temos tantas informações zootécnicas em mãos para tomada de decisão como, por exemplo, no curral, durante a compra de vaca da criadeira, ou mesmo para adquirir um reprodutor em leilões. Esse conhecimento também é muito válido nos julgamentos em exposições agropecuárias, em que as informações que constam na ficha do jurado são limitadas e o olho acurado passa a ser a principal ferramenta de seleção.
Mesmo em programas de melhoramento e seleção genética, avaliar a sexualidade é muito importante, mas precisamos de metodologia bem definida para que os dados de diferentes avaliadores possam ser comparados e aptos a compor um banco de dados de qualidade. A metodologia EPMURAS foi desenvolvida com esse objetivo. Surgiu através de uma linha de pesquisa que se iniciou em meu mestrado e que foi validada em meu doutorado. Em seguida, foi implementada em importantes programas de melhoramento e por associações de raças de corte no Brasil e no exterior.
Por isso, é sempre bom lembrar que o EPMURAS é uma forma eficiente de seleção complementar à seleção para fertilidade a fim de se produzir um rebanho funcional, produtivo, adaptado e lucrativo. Afinal de contas, nada é mais importante como critério de seleção do que a reprodução - característica de maior impacto econômico na atividade de cria em pecuária bovina. Vamos que vamos!