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Publicado em 01/06/2022
Por: William Koury Filho
Prezados leitores, na coluna deste mês seguimos com a sequência das características avaliadas pelo EPMURAS, uma metodologia muito prática para descrever a morfologia de um animal, e prover dados para seleção funcional nas raças bovinas de corte.
Primeiramente, vamos recorrer ao dicionário e lembrar qual o sinônimo de funcionalidade: “Qualidade do que é funcional; finalidade, aplicabilidade, aplicação, função, serventia, uso, utilidade”.
Pois é, a função principal de uma raça de corte é produzir carne com eficiência. Quando discorremos sobre a metodologia EPMURAS, as características indicadoras dessa capacidade de produção, em volume, estão relacionadas ao biotipo, que é baseado nas proporções de E, P e M – demostrado nas três colunas anteriores.
Se fosse simples selecionar o gado de corte, o peso seria suficiente. Porém, somente analisando a distribuição desse peso na carcaça, e as proporções de ossos, músculo e gordura, é que podemos ter melhor condição de ajuizar o resultado no gancho de um animal.
Mais importante do que expor o conceito acima, é discorrermos sobre seleção funcional sob o ponto de vista reprodutivo. Nessa ótica o biotipo relacionado à capacidade de se adaptar e se manter sadio é fundamental para eficiência dos touros em monta natural e, principalmente, para as fêmeas, pois aquelas mais exigentes na mantença, e ainda boas de leite, têm grande dificuldade de manter bom escore corporal e emprenhar todos os anos.
Para ter desempenho e bom peso, primeiro é necessário ao exemplar nascer e sobreviver. Aí está o cuidado que devemos ter em olhar só para números, principalmente índices, em não interpretar toda a régua de DEPs e desconsiderar a morfologia.
Um exemplo do risco de se olhar só para índices dos programas está no aumento exagerado do tamanho adulto dos animais, o que torna o rebanho cada vez mais exigente e, por consequência, com resultados negativos na reprodução. É importante lembrar que os pesos medidos na desmama e principalmente ao sobreano são correlacionados ao peso adulto e também com o peso ao nascer (facilidade de parto), outro problema funcional perigoso e importante de ser monitorado.
Além do biotipo, avaliar aprumos, raça e características sexuais secundárias é importante para a seleção funcional, mas esses são temas para as próximas colunas, porque, dando sequência às características avaliadas pelo EPMURAS, a bola da vez hoje é o umbigo (U).
Nas fêmeas, a prega umbilical é avaliada pelo simples fato de que a característica é herdável, e deve ser ponderada nos acasalamentos dirigidos. A grande importância de medir, por escores visuais, e considerar essa característica no processo de seleção, é que umbigo mais penduloso nos machos apresenta alta relação com a ocorrência de acrobustite, a popular umbigueira, que pode tirar completamente um touro de sua principal função – emprenhar matrizes.
Quando nos referimos à característica umbigo nos machos, considera-se o conjunto umbigo e prepúcio e, além do tamanho, a angulação da bainha é importante. O umbigo mais penduloso apresenta maior pré-disposição ao prolapso de prepúcio, aumentando as chances de qualquer ferimento na mucosa causado por capim ou invasora e podendo desencadear o processo inflamatório já citado como umbigueira.
Quando eu estava cursando o mestrado na USP em Pirassununga – SP, um dos trabalhos científicos que publiquei foi sobre as estimativas de componentes genéticos da característica umbigo. Na época, estou falando de 1998, havia uma desconfiança de que animais de umbigo mais soltos teriam maior desempenho em ganho de peso. Porém, o estudo demonstrou que a referida característica apresenta praticamente zero de correlação com desempenho, e que a herdabilidade apresentada evidencia que é possível selecionarmos para umbigos mais corrigidos, por meio da medição por escores visuais, e evoluirmos para umbigos mais funcionais no rebanho através de acasalamentos dirigidos.
Via de regra, as raças taurinas apresentam umbigo mais colados, os zebuínos, por sua vez, couro mais solto, inclusive com a importância da barbela para termorregulação corporal – mais uma característica funcional relacionada à adaptação. Nos zebuínos não é desejado ao reprodutor manifestar o umbigo colado, aquele bicho de courama apertada. O objetivo nos acasalamentos é fugir dos extremos, nem “paletó apertado”, muito menos “coador de café”.
Em algumas raças zebuínas essa importante característica funcional foi negligenciadapor algum tempo, como no Gir, Indubrasil e Brahman. Porém, hoje se vê grandes reprodutores dessas raças com umbigo funcional, e mantendo as boas características produtivas. Já no Nelore, a raça de maior expressão no país, a busca desmedida por números e/ou desempenho fez com que nas últimas décadas aumentasse a ocorrência de U mais pesados em touros de central, dessa forma a característica infelizmente se multiplicou no rebanho. É fato que existem importantes reprodutores que transmitem umbigo mais solto, mas suas boas características justificam sua utilização, daí a importância dos acasalamentos dirigidos considerarem a morfologia e não somente números. Não se pode perder o equilíbrio, para não se perder a funcionalidade.
E sobre o título da coluna, seguramente a questão da funcionalidade é de suma importância para se evoluir com um rebanho cada vez mais adaptado e produtivo, no sentido mais amplo da palavra. Isso aí, Vamos que vamos!