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“MANTEÚDA”

Publicado em 25/02/2021

Por: Guilherme Faria Costa

Olá meus amigos, pelo calendário ocidental já seguimos em 2021 há algumas semanas, mas pelo calendário chinês 2021 começou há poucos dias. No zodíaco chinês, que é composto por 12 animais, todo ano é representado por um animal, e 2021 é o ano do boi. Para que tenhamos de fato um boi precisamos antes que ele seja bezerro e antes do bezerro precisamos de uma vaca que possa gerá-lo. Assim, dedico esta coluna dedico à capacidade de criar e à habilidade materna das fêmeas bovinas.

Não pretendo entrar em muitos detalhes sobre características anatômicas, fisiológicas e metabólicas, que por si só um livro, mas trazer de maneira simples algo muito complexo. A capacidade criadeira de uma vaca começa antes da própria gestação, envolvendo fatores como fertilidade e precocidade sexual, entre outros. O balanço hormonal determina muito sobre a fertilidade da fêmea. Uma vaca em balanço hormonal normal é extremamente feminina, não tem uma conformação extremamente musculosa, seu peito é pequeno bem contornado pela barbela, tendo grande capacidade ruminal e pelos sedosos, o formato do seu corpo é em “cunha”, de maneira que ela cresce para trás; tem genitália e úbere bem desenvolvidos, perde pelos assim que emprenha e os mantém finos e sedosos durante toda sua gestação e lactação.

A gestação média na espécie bovina difere entre suas duas subespécies, sendo de 284 dias para os taurinos e 292 dias para os zebuínos, havendo também diferença entre raças dentro dos grupamentos e entre os próprios indivíduos. A constituição da placenta bovina impossibilita a passagem de anticorpos da mãe para o feto, sendo demandada após o nascimento a ingestão de colostro (primeiro leite) pela cria, com isso ela vai adquirir imunidade e energia para iniciar seu desenvolvimento pós uterino. A qualidade do colostro declina com o passar das horas pós-parto e a capacidade de absorção de imunoglobulinas pelo bezerro também, dessa maneira a necessidade de ingerir imediatamente ao nascimento o colostro é imprescindível.

O início da limpeza do bezerro, o quanto antes, pela mãe impacta no tempo para a primeira mamada, assim como na formação do vínculo afetivo mãe-cria. O trato inicial da mãe para com seu bezerro depende de alguns componentes: fatores maternos e fatores da cria; vou abordar nesta coluna os maternos. Os fatores maternais que interferem na primeira mamada e que posteriormente seguem até a desmama são: o comportamento materno (aceitação do bezerro) e a conformação do aparelho mamário (úbere e tetos).

O comportamento materno ou a habilidade materna se referem em suma à capacidade da vaca criar e desmamar bem o seu bezerro, mas até que isso ocorra muitos fatores se associam de formas diversas. A habilidade materna consiste na fêmea ter carinho e “ciúmes” com sua cria, protege-la de predadores e ameaças, produzir leite suficiente pelo tempo que a prole depende exclusivamente dele e em quantidade adequada quando a cria passa a se alimentar de outras fontes até sua desmama. Na proteção de sua cria contra ameaças, muitas vezes as mães enxergam os vaqueiros e peões como potenciais predadores, o que pode causar acidentes para todos. A seleção consiste em manter as vacas protetoras de suas crias, mas que não sejam agressivas com os colaboradores ao ponto de se tornarem apáticas e não se importarem com as crias.

A aceitação do bezerro e a habilidade materna variam de indivíduo para indivíduo de diversas formas e em diversas idades; vacas multíparas costumam ser mais cuidadosas já que passaram por mais de uma vez pela experiência de ser mãe; as primíparas ou “mães de primeira viagem” são um ponto relevante e que merece muita atenção. As novilhas quando parem pela primeira vez, por serem inexperientes em serem mães, podem além de se provarem excelentes mães, irem de mães muito apáticas até muito agressivas, que acabam matando suas crias na ânsia de protege-las.

A composição do aparelho mamário é o segundo fator, mas de igual importância ao primeiro. Um úbere bem implantado, firme, com iguais proporções, bons ligamentos; e tetos pequenos, bem distanciados, e não muito mais grossos que um dedo da mão, são ideais para facilitar a primeira mamada e o aleitamento da cria.

Hoje a maioria dos programas de melhoramento quantificam a habilidade materna da vaca pela pesagem de suas crias aos 120 dias e à desmama (de 205 a 240 dias), uma maneira indireta de mensurar a capacidade criadeira, pelo peso associado à produção de leite, mas isso deve ser feito com parcimônia. A seleção exacerbada para habilidade materna (produção de leite) em bovinos de corte, pode acarretar problemas como úberes e tetos maiores que dificultam a mamada, que decorrem em maior exposição do aparelho mamário à escoriações e danos; maior produção de leite sujeita as fêmeas a maior probabilidade de ter mastite; as fêmeas se tornam mais exigentes no aporte alimentar, elevando seu custo (mantença e financeiro), se essa demanda não é atendida as vacas sofrem com restrições que levam a uma condição corporal pior e falhas conceptivas, comprometendo assim a fertilidade.

Dentro do grande universo de raças bovinas muitas se destacam por serem raças criadeiras, todas elas tendo muitas características em comum, o Nelore e o Sindi entre as zebuínas; o Galloway e o Shorthorn entre as britânicas; o Salers, o Aubrac, a Alentejana e a Mertolenga entre as continentais.

Ora, este é um tema muito interessante e que suscita vários debates, mas qual o porquê do título desta edição? MANTEÚDA, referente aquilo que se mantém e se sustenta, diz-se da fêmea que se mantém bem apesar da idade, do trabalho ou do número de crias e situações pelas quais passou.

Bem, meus amigos, todos estes pontos os quais tratei são de extrema importância à criação de gado já que em sistemas de cria as fêmeas são a categoria mais numerosa, ocupando mais área e representando dois terços dos custos de produção. Notem que não abordei – ou fiz de forma muito sutil – outras características que se correlacionam com o relatado aqui, como o parto, a facilidade de parto, o peso ao nascer e vigor do bezerro, culminando na eficiência das fêmeas, esses são outros assuntos para o Ano do Boi, temas que merecem colunas próprias. Para esse breve relato que fiz a partir de um tema mais complexo, digo que, todas as características referentes à capacidade criadeira de uma vaca têm variabilidade genética e respondem à pressão de seleção; cabem ao selecionador e ao criador ponderarem com bom senso, discernimento e consciência, o que é relevante e seguirem pelo caminho pertinente. O Equilíbrio e a Funcionalidade devem prevalecer. Um abraço e até outra hora!