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“T-0”

Publicado em 30/09/2021

Por: Guilherme Faria Costa

Olá meus amigos, como estão passando por este ano? 2021 já está em seu terço final, com a primavera iniciada, essa estação na natureza marca o início dos nascimentos e para aquelas mães com os filhos já nascidos, a estação de reprodução. Pensando nas estações de monta que estão aí, me peguei recordando de meus tempos de faculdade quando, junto de competes amigos e colegas, conduzíamos os manejos e o rebanho da universidade onde me formei. E, por falar no rebanho da UFLA, falarei de: Tabapuã.

A raça Tabapuã é uma raça neozebuína, termo que significa ser uma raça que, a exemplo do Brahman e o Indubrasil, não existia na Índia/Paquistão antes da vinda dos zebuínos para o continente americano, e que são formadas pelo cruzamento das raças importadas.

Antes de começarmos propriamente pelo Tabapuã, é necessário relatar que no Brasil em meados do final do século XIX, já havia registros de núcleos de gado mocho pelo país, ressaltando que a raça Mocho Nacional se encontrava aqui há muitos anos. Os estados da Federação que tinham maior representação desses núcleos eram: São Paulo, Minas Gerais, Bahia e, sobretudo, Goiás. Em registro no livro, “Inquérito sobre o Gado Zebu”, já se relatava do gado mocho de Goiás: “O mocho é o gado crioulo de Goiás, notando-se que é uma das boas raças, que é bastante corpulenta, leiteira e mansa.”

Lá pelos idos de 1938 e 1939, o pecuarista de Cosmorama (SP), Júlio do Valle, já de ciência desses núcleos mochos, principalmente os de Goiás, adquire uma boiada que tinha no lote animais mochos. Em visita à fazenda de Júlio, Alberto Ortenblad, dono da Fazenda Água Milagrosa e amigo do criador, foi presenteado com um garrote mocho. Esse garrote era um mestiço de sangue zebuíno, com traços raciais entre Nelore e Guzerá, e com o detalhe de ser totalmente mocho. Seguindo a tradição de batizar novos animais com o nome de seu local de origem, Ortemblad, colocou o nome, no então touro, de Tabapuã, município do interior paulistano onde se localizava a Água Milagrosa.

O touro padreador foi colocado com um lote de vacas de chifre, já que a propriedade não possuía vacas mochas. Em seguida, foi utilizado em sistema de descendência paternal continuada, o tal inbreeding, que consiste em serem postas para cobertura pelo próprio pai, as filhas e netas. Esse método foi para a formação de muitas raças, como a Santa Gertrudes (Monkey) e a Brahman (Manso). Depois de muitas filhas e filhas-netas, as fêmeas somavam muitas cabeças e houve a necessidade de se escolher entre os filhos-netos bons novos reprodutores para dar sequência à seleção. Cuidadosamente, para que não se vacilasse com a consanguinidade e não houvesse comprometimento das linhagens, os filhos recebiam marca a ferro com a inicial dos pais.

O maior destaque entre os filhos-neto ficou por parte de Horizonte T-135, filho da primeira e melhor filha de Tabapuã, Copa T-1. Os filhos de Horizonte recebiam a letra H.

Com a divisão das posses da família Ortenblad, depois do falecimento da mãe de Alberto, este ficou com a Água Milagrosa e seu irmão mais velho, Rodolfo, com a Fazenda Santa Cecília. O rebanho foi repartido entre eles. Os dois irmãos, muito empenhados na difusão da raça, através de muitas ações, conseguiram junto a outros criadores o reconhecimento oficial da então raça Mocho Tabapuã ou Zebu Mocho, em 1981. Já em 1971, 10 anos antes da oficialização, a raça já era registra em Livro Aberto.

A consolidação de um tipo específico de gado, sendo rapidamente estabelecido, e o rigoroso planejamento zootécnico fizeram da raça Tabapuã uma das grandes conquistas da zootecnia brasileira dos últimos 100 anos. A raça também goza de boa habilidade materna, conformação frigorífica evidente, ótimo desempenho em confinamento, temperamento dócil e prepotência na transmissão do caráter mocho. Muito usada em experimentação zootécnica em instituições como a Universidade Federal de Lavras (UFLA), tendo o seu rebanho de corte formado por essa raça.

Uma curiosidade feita por observações de campo atesta que entre as raças zebuínas a que mais tolera o frio é a Tabapuã, o que corrobora, além de seu temperamento, para ser o zebuíno mais presente abaixo do Trópico de Capricórnio.

E o que quer dizer “T-0”? T-0 foi o número de identificação que Alberto Ortenblad atribuiu ao touro Tabapuã, como nada o precedeu e ele veio antes de todos, recebeu essa numeração.

 Bem, meus amigos, essa foi uma crônica que uma pequena memória trouxe à escrita. O Tabapuã é uma boa raça zebuína que com seus méritos tem muito para contribuir com a pecuária nacional e internacional, uma raça que me é querida pelo tempo com que trabalhei com ela, e que sempre será recorrente à memória. Espero que tenham gostado. Um abraço e até outra hora!