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Publicado em 30/11/2020
Por: Guilherme Faria Costa
Olá meus amigos, passaram se alguns dias desde nossa última crônica. Nesse período avançaram se os nascimentos da safra deste ano, os acasalamentos para aqueles que trabalham com gado de seleção somados à estação de monta que segue firme. Lembrando daqueles que trabalham com animais de puro pedigree e que, com isso, se dedicam a rebanhos e raças com variedades mochas, prezando pelas características produtivas e funcionais e pela manutenção do caráter “sem chifres”. Em complemento
aos serviços de acasalamento, abordarei sobre o caráter mocho na espécie bovina nesta crônica.
O ancestral selvagem dos bovinos, o Auroque ou Uro Bos primigenius assim como todos os ancestrais das demais espécies domésticas, não era tal qual são seus descendentes hoje.
Os Auroques eram inicialmente animais maiores, de proporções corporais distintas das modernas raças bovinas, com matizes de pelagem mais restritas e majoritariamente aspados (de chifre). Das subespécies que derivam do Uro o Bos aceratos de predominância fóssil no norte da Europa, seria o ancestral de todas as raças mochas, teoria esta proposta pelo Dr E A Arenander mas que não é muito aceita pela comunidade científica, que defende o caráter mocho existir por mutações e ter se fixado pelos processos de seleção do homem.
Achados arqueológicos em sítios na Rússia e na Grã Bretanha provam através de crânios sem chifres, que animais mochos são encontrados desde a Idade do Ferro.
Um ponto que endossa esses fatos é a presença de raças muito antigas na região da Escandinávia e Reino Unido que desde tempos remotos são mochas, como a Finncattle na Finlândia, a Fjäll na Suécia, a British White, Red Poll e Irish Moiled no Reino Unido, descendentes e com grande influência das duas raças vikings citadas O Aberdeen Angus e o Galloway ancestralmente mochos, podem ter sofrido influência do primeiro grupo, mas são raças indígenas escocesas que remontam a séculos datadas como mochas há séculos. Nos demais rincões do mundo, outras raças mochas surgiram e estão presentes, mas com fortes suposições, descendendo das primeiras citadas.
Uma explicação para serem todas estas raças de regiões relativamente próximas é que nestes locais os bovinos tiveram menos problemas com predadores que em outros locais e que por facilidades no trato e cuidados, o homem deu preferência ao caráter mocho. Essas mudanças ocorreram ao longo de vários séculos, onde os Auroques sofreram diminuição de seu tamanho, uma melhor proporcionalidade dos quartos dianteiro e traseiro e uma redução e/ou eliminação dos chifres.
Os chifres, que nos bovinos na verdade são cornos, possuem um núcleo ósseo que se trata de um prolongamento do osso frontal do crânio (osso da testa), e à medida que ele vai crescendo, pelo processo cornual vai sofrendo um revestimento córneo, uma modificação da epiderme. O desenvolvimento do caráter que o bovino terá em sua vida já se inicia em estágio pré natal, mas que ainda vai se estabelecer com a idade, por isso sendo complicada a avaliação em idades jovens Um detalhe muito interessante sobre essa característica anatômica dos bovinos é que existe um meio termo, a metade do caminho, por assim dizer, entre o animal ser aspado e mocho, o batoque.
O batoque é um chifre rudimentar processo queratinoso que não tem conexão óssea ao crânio, podendo variar seu tamanho de um simples “ a até um chifre de tamanho normal neste caso os batoques móveis em animais jovens podem se fundir ao crânio em idades mais avançadas, tendo a aparência de um chifre normal e, se permanecerem pendentes sem fixação, receberem o nome de chifre “.
Um estudo feito em 1978 pelos pesquisadores americanos Long e Gregory, sugeriu certa influência do sexo sobre o batoque, de modo que machos expressam mais esta característica. Outro ponto interessante foi uma maior frequência de batoque e calo conforme o formato do crânio na altura da marrafa, indo de mais incidente a menos na seguinte ordem marrafa nivelada, marrafa arredondada, marrafa pontiaguda e marrafa extremamente pontiaguda.
Aproveitando aqui este momento da coluna, explico o porquê do nome que dei a ela ..“CABEÇA DE COBRA” é o nome que no campo é dado àqueles animais, principalmente Nelore Mocho, que têm a cabeça sem nenhum vestígio de chifres, portanto mocho de fato.
Cabe aqui também explicar um detalhe muito comum em todas as raças mochas, mas que é pouco desejado em zebuínos mochos, e que tratei no parágrafo acima como “ o
nimbure. Projeção do osso no meio da marrafa, o nimbure é a característica que dá nome ao caráter mocho em inglês, POLL ou POLLED.
Bem, meus amigos, vou encerrando aqui mais um de nossos contos, a história e a ciência nos mostram um ponto em aberto, que ainda não foi aparada a aresta que explicaria definitivamente a origem do caráter mocho no gado, mas eu diria que está aí a diversão desse assunto, o debate e a pulga atrás da orelha que nos estimulam a querer saber mais e mais Independente se aspados ou mochos, de calo ou de batoque, com nimbure ou não, estamos a tanto tempo ligados aos bovinos que indo mais a fundo não estaremos somente descobrindo informações sobre eles, mas também sobre nossa própria história.
Um abraço e até outra hora!