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“NEM REDONDO E NEM QUADRADO?”

Publicado em 29/06/2022

Por: Guilherme Faria Costa

Estimados confrades, na coluna passada tratei sobre o uso de touros de corte de raças especializadas em vacas leiteiras também especializadas, no intuito de dar melhor saída aos bezerros, ter uma alternativa econômica e segunda fonte de renda. Seguindo uma linha parecida com o que abordei, nessa vigésima segunda coluna vou discorrer um pouco sobre a alternativa das raças de dupla aptidão.

Como já tratei por muitas vezes em minhas colunas, as raças bovinas inicialmente eram de múltiplas aptidões, servindo de tração, produção de combustíveis, adubo além de leite e carne. Isso é muito importante de ser frisado porquê a especialização para a produção de carne, assim como a especialização para a produção de leite, é relativamente recente na criação desses animais.

Datando da segunda metade do século XX, a guinada que muitas raças deram em se especializar na produção de carne ou leite, foi em decorrência do aumento da demanda por produtos de origem animal na explosão populacional que houve no pós Segunda Grande Guerra. Vale ressaltar que várias raças que eram originalmente de dupla aptidão, se dividiram e desenvolveram linhagens leiteiras e de corte, com o Simental, o Pardo Suíço e o Shorthorn.

Tradicionalmente as raças de dupla aptidão mais clássicas são taurinas continentais, mais especificamente de países da Europa Central e do Leste, como Países Baixos, Alemanha, Suíça, Áustria entre outros. As raças mais famosas por sempre terem sido exploradas como de dupla aptidão são a Simental, Baunvieh (Pardo Suíço), Gelbvieh, Pinzgauer, Groninger Blaarkop e Meuse-Rhine-Ijssel (MRI). Os britânicos também tinham suas raças como o Shorthorn, o Devon e o Red Poll.

Países da Ásia, África, Oceania e Américas também têm suas raças de dupla aptidão, ou que são exploradas em um sistema de dupla função, mas com raças menos conhecidas. Na Índia e posteriormente no Brasil, o Guzerá e o Sindi, são explorados como raças de dupla aptidão em muitos lugares e por muitos criadores, com linhagens mais fortes para corte e outras mais representativas no leite.

Muitos técnicos e profissionais defendem que raças de dupla aptidão hoje não têm muito sentido dado o nível de tecnificação que as atividades atingiram, defendendo que ou se produz carne ou se produz leite, e que qualquer outra atividade de fato é secundária. Eu concordo com esse ponto de vista, para produções em escala, grandes produtores devem se especializar para que seu produto atenda ao mercado em volume e qualidade, porque as despesas devem ser cobertas e o lucro bom para que se permaneça na atividade e se viva bem.

Mas então onde cabe uma raça de dupla aptidão? Bem, pequenos e médios produtores que não possuem grandes áreas para exploração ou que não têm vastos recursos para uma intensificação da propriedade, raças de dupla aptidão se tornam alternativas interessante. Essas condições se enquadram muito para a maioria dos pecuaristas que têm suas terras no Trópico do planeta. Acredito que nesses parâmetros, assim como em pequenas propriedades na Europa, por exemplo, fazendo os devidos ajustes de raças adaptadas ao meio, a criação de raças de dupla aptidão seja virtuosa.

Por mais que estas não alcancem o volume de leite e de carne que suas companheiras especializadas produzem, elas conseguem produções satisfatórias de leite com boa porcentagem de sólidos, entregando um bezerro pesado a desmama, além de saírem mais pesadas ao descarte. Uma vaca Simental de dupla aptidão que produza em média 17 a 20 kg de leite/dia, desmamando um bezerro de 240 kg paga bem as contas de seu proprietário. Além desses valores ainda podemos contar com uma maior saúde, melhores aprumos, menores incidências de problemas de cascos e melhores escores corporais. Um estudo da Universidade de Wageningen (Países Baixos) avaliou raças de dupla aptidão comparadas às raças leiteiras especializadas e observou que vacas de melhor escore corporal têm menos problemas de cascos.

Só que ainda sim, por que as raças de dupla função não se difundem tanto? Eu acredito (já justificando também como penso que elas devam ser trabalhadas) que um criador que tenha gado comum e que precise ser melhorado, dado o objetivo que ele deseja alcançar, deva usar em suas vacas “comuns” touros de raças especializadas, porque assim se usa a ferramenta certa acelerando o processo. Raças de dupla aptidão são formulações prontas (como fertilizantes e sais minerais) elas já se encontram em pronto uso, de modo que demandam ser criadas puras, justificando assim seu menor uso. O que eu quero dizer com isso é que raças de dupla aptidão podem ser cruzadas entre si, por exemplo Simental com Pardo Suíço, porque seria como se eu tivesse dois sacos de sal mineral pronto uso, de duas marcas diferentes e misturasse os dois, cada um tem sua particularidade, mas servem pro mesmo intuito.

Numa coluna de muitas perguntas, ainda falta uma a ser respondida, por que “NEM REDONDO E NEM QUADRADO”? Usando mais uma vez os trocadilhos, essa expressão se refere a um animal ou raça que não é específico, ou especialista em uma das aptidões, de fato um que seja intermediário, por vezes direcionado pelo criador mais para leite, outras mais para corte.

Bem, meus amigos, aqui lá vou findando mais está crônica, trouxe de forma breve um apanhado sobre as raças de dupla aptidão e minha opinião sobre elas, aquelas raças sobre as quais ainda não abordei diretamente terão suas colunas e as que já tratei nas edições anteriores é só dar uma conferida. Espero vocês na próxima edição, um abraço e até outra hora!