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Publicado em 19/04/2022
Por: William Koury Filho
Prezados leitores, hoje a prosa é sobre Musculosidade (M). Terceiro tema da série de sete colunas sobre a metodologia EPMURAS – Retrato Falado; anteriormente, abordei as características Estrutura Corporal e Precocidade. Mas antes de conceituar musculosidade, vamos discorrer sobre o conceito de “carcaça moderna”, expressão tão utilizada para dizer que o animal é produtivo e que está na vanguarda da pecuária de corte.
Você sabia que esse termo tem relação com a moda preconizada em sua época? Pois é, na década de 1980, o conceito de “carcaça moderna”, descrito em literaturas de referência, era designado para o animal com biotipo longilíneo e cilíndrico, ou seja, o grandão e tardio, a partir de uma premissa que considerava qualidade na carcaça enxuta, desprovida de gordura, portanto sem acabamento – o que hoje é considerado desastroso para machos, e principalmente, para fêmeas em reprodução, conceito reforçado na coluna anterior.
Atualmente a expressão carcaça moderna é aplicada a animais de costelas profundas (em torno de 60% de profundidade e 40% de pernas para animais adultos), e de costelas arqueadas, com amplitude de peito e grande volume de massas musculares. Hoje, o termo é atribuído para animais grossos!
Para mim, o termo “carcaça moderna” tem que refletir a melhor conformação frigorífica, buscando um padrão não só de peso, mas também da composição do peso, que se traduz no percentual de ossos, músculo e gordura que compõe a carcaça, e naturalmente reflete em qualidade de carne e rendimento de carcaça. Entre os atributos de uma boa carcaça está a Musculosidade, avaliada no EPMURAS através do volume de massas musculares na cobertura de paleta, linha dorso-lombar e posterior.
Publicações científicas demonstram que Musculosidade apresenta boa correlação genética com Área de Olho de Lombo, famosa AOL, avaliada por ultrassografia de carcaça e que mede a área do músculo longissus dorsi, popular contrafilé. Mesmo com correlação genética positiva (ao selecionarmos para uma aptidão obteremos resposta correlacionada para evolução da outra), AOL e M não são exatamente as mesmas características. AOL, além da musculatura, também está relacionada ao tamanho do animal e pode conduzir a seleção para animais de maior peso adulto, caso não seja equilibrada com características como acabamento de carcaça e Precocidade morfológica.
O ultrassom é uma ferramenta muito importante para seleção de diferentes tecidos que compõem a carcaça como músculo e gordura, e pode ser complementado pela seleção por escores visuais de EPM em busca do biotipo funcional e, assim, evoluir no conceito de “carcaça moderna”.
Depois de toda essa conversa sobre carcaça e musculosidade, você acredita que o termo “carcaça moderna” reflete o biotipo mais eficiente para pecuária brasileira? Ou será mais uma moda?
Particularmente, acredito que reflita, sim. Talvez parâmetros ainda mais afinados devam surgir, e a padronização da maneira de avaliar a morfologia de um animal deva evoluir, utilizando metodologias como o EPMURAS, para minimizar a subjetividade. Mas que o bovino de corte deve apresentar costelas profundas e arqueadas, bom comprimento corporal e grande volume de massas musculares eu não tenho dúvida.
O “desenho” do animal produtivo apontado pelo conceito de carcaça moderna parece estar correto, e como melhoramento genético é um processo contínuo e dinâmico, esperamos que o zebu possa, um dia, alcançar a padronização de biotipo e carcaça como no Angus, utilizada para simbolizar o primoroso trabalho dos britânicos nas diferentes raças que desenvolveram por séculos. Nas raças britânicas, as proporções corporais são muito parecid, e o que muda basicamente é a bitola, conhecido como frame e ligado a curva de crescimento.
A seleção mais “objetiva” através de mensurações e avaliações genéticas é recente nos zebuínos, e a variabilidade encontrada é muito grande.
Assim, a partir do momento em que a referência se tornar mais clara, rapidamente, atingiremos um padrão de qualidade que não deverá em nada para as principais raças europeias, sem perder em adaptação.
Nas próximas colunas serão abordadas as características: Umbigo, Raça, Aprumos e Sexualidade para que você possa compreender melhor a importância do complemento da funcionalidade junto a seleção para carcaça.
É isso aí, amigos, colocando “ciência nos olhos”, temos uma simples e poderosa ferramenta de seleção.
Sempre acreditei que equilíbrio entre números e morfologia produtiva funcional é a chave para o sucesso da seleção sustentável. Vamos que vamos!