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Publicado em 16/03/2022
Por: William Koury Filho
ZPrezados leitores, hoje o papo é sobre Precocidade (P). O segundo tema da série de sete colunas sobre o EPMURAS, onde irei abordar cada uma das características morfológicas analisadas por esta metodologia utilizada por importantes associações de raça e programas de melhoramento.Você sabia que Precocidade é a característica morfológica de biotipo de maior correlação genética com eficiência reprodutiva? Isso mesmo, de acordo com os resultados do mestrado da zootecnista Flávia Paterno, dentre outros trabalhos científicos já publicados, os animais mais “costeludos” apresentam melhor desempenho reprodutivo com maior longevidade e precocidade sexual. Esses resultados não surpreendem aqueles que estão acostumados a observar o gado no campo, onde fica evidente que as matrizes de costelas mais profundas tendem a se manter em melhores escores de condição corporal e, consequentemente, são as que mais emprenham. O gado de mais costela é mais sadio no campo, mais “manteú-do” – como diz o caboclo. Na prática, o EPMURAS funciona como um retrato falado que descreve importantes características para produtividade e funcionalidade de maneira muito simples. Vale reforçar o quanto entender a metodologia pode ser útil para que criadores, técnicos e merca-do falem a mesma língua quando o assunto for morfologia em gado de corte. Com o EPMURAS a comunicação fica mais clara, evitam-se distorções por preferências pessoais, onde o bom para Fulano pode ser ruim para Ciclano. E o que é a tal da precocidade? Essa termologia muitas vezes banalizada na comunicação dos rebanhos vendedores de genética que em suas propagandas insistem em dizer que são precoces. Será que são mesmo? Quando usamos o termo precocidade podemos estar nos referindo à precocidade de acabamento de gordura, ou à precocidade sexual de machos ou fêmeas. No caso das fêmeas, são as conhecidas superprecoces ou, simplesmente, precocinhas. No EPMURAS a Precocidade não está medindo deposição de gordura e nem tão pouco aferindo maturidade de órgãos sexuais, mas, sim, avaliando o biotipo precoce – animal que apresenta uma boa relação entre profundidade de costelas comparada à altura de seus membros. Na prática atribuímos es-cores mais altos para os animais mais costeludos, bem como escores mais baixos para os animais pernaltas e ca-neludos sem profundidade de costelas que caracterizam o biotipo tardio que é o contrário de precoce. Vale reforçar que o biotipo precoce tem correlações genéticas positivas e de boa magnitude com espessura de gordura subcutânea aferida por ultrassonografia e precocidade sexual medida por programas de melhoramento.
As precocidades de terminação e sexual caminham de mãos dadas, já que para atingir a maturidade sexual é necessário ter uma gordurinha – os hormônios sexuais femininos são lipogênicos.Quanto ao título da coluna “o Nelore é precoce ou não?”, o que pude acompanhar, desde o início das pesquisas na década de 1990 quando eu ainda estava no mestrado na USP de Pirassununga, e que continuo observando nos dias atuais, é que a raça apresenta grande variabilidade para precocidade. O que fica claro tanto no biotipo, como na ultrassonografia de carcaça e também no desafio da precocidade sexual. Quando digo variabilidade, significa que existem indivíduos e linhagens precoces, assim como existem os tardios. Esse conceito vale para todas as raças zebuínas em que o espaço de tempo de melhoramento genético é re-lativamente curto. É impressionante o quanto a raça Nelore tem evoluído nos últimos anos. Era comum, na década de 1980, bois anelorados irem para o abate com quatro ou cinco anos de idade, e novilhas PO emprenharem com três anos para parir com quatro anos de idade. Hoje, muita boiada vai para o abate em torno de 24 meses, mesma idade que temos visto as precocinhas parirem seus primeiros produtos. É incrível o encur-tamento do ciclo de produção, e com isso estamos falando de produtividade e sustentabilidade. Mas esse ganho todo foi só genético, ou também ambiental com a melhorias das pastagens, suplementações e implantes hormonais? Para dar uma resposta simples eu posso afirmar que a evolução foi geral, nas pastagens e suplementos, no manejo reprodutivo e também na genética – elemento que deve ser considerado um insumo.O problema é que nem sempre a fa-zenda mais produtiva é a mais lucrativa, em genética existe a interação genótipo versus ambiente, ou seja, a genética da precocidade que se expres-sa num ambiente mais farto pode não se expressar num ambiente mais restritivo.Voltando ao tema de hoje, quando o assunto for Precocidade, fique atento em utilizarse de uma genética selecionada num sistema de produção próximo ao seu, caso contrário os resultados podem ser longe do esperado. Vamos que vamos!