Saiba mais sobre tudo que rola no mundo da pecuária!
Publicado em 11/10/2020
Por: William Koury Filho
Olá amigos pecuaristas! Estamos caminhando para o final de setembro, quando o início da primavera trouxe boas chuvas por todo o País, que esteve assolado pela forte seca. Em breve, o verde deverá voltar a alegrar o campo.
Na política mundial, o presidente Bolsonaro discursou na abertura da 75ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e enalteceu o mérito do produtor rural brasileiro que, mesmo em tempos de pandemia, não deixou a “peteca cair” e contribuiu para que o ano feche com números muito fortes em nosso setor. Na economia, 2020 deverá também ser lembrado como o ano de grande valorização das commodities, importante tendência para um país com a nossa vocação. Agora vai! Assim esperamos.
Na pecuária os bons preços não devem acomodar os pecuaristas. Não se pode perder o foco na eficiência, até porque os custos de produção também seguem crescendo acompanhando a valorização do dólar e grãos.
E por falar em eficiência, vamos ao título da coluna que é uma conversa muito frequente entre os pecuaristas por vezes movidos por paixão ou conceitos equivocados sobre o tema: o debate sobre quem é quem na pecuária brasileira quando o assunto é falar sobre as qualidades e fraquezas do Angus ou do Nelore.
Como técnico e zebuzeiro de nascimento, eu lhes digo que sou um grande fã do Angus, até porque a raça só é tão expressiva na pecuária brasileira em função da base zebuína, especialmente do Nelore. Como estudioso de gado de corte, conheço cabanas que selecionam Angus no sul e no sudeste do Brasil, além de compartilhar conhecimento com técnicos da raça – até curso ministrei e julgamento já fiz pela associação do Angus em minha trajetória como consultor. Mas considero minha maior experiência com a raça a viagem que fiz com um pequeno grupo de amigos, há cerca de quatro anos para Montana, nos EUA, com objetivo de verificar, in loco, em que pé estava a ponta da pecuária seletiva no Hemisfério Norte. A experiência superou minhas expectativas ao constatar, no campo, o quanto a raça Angus é eficiente nas características maternas, precocidade sexual, padronização na conformação frigorífica (biótipo), com grande facilidade de parto e adaptabilidade ao clima temperado, alimentando- se em pastagens cultivadas e nativas no norte dos EUA com ótimo desempenho, e, quando suplementados no cocho, seguindo com bastante eficiência nos confinamentos. Quanto à qualidade de carne, além do excelente marketing, não é à toa que é reconhecida mundialmente como sinônimo de carne boa.
É, gente, se gostamos de gado de corte, temos que estudar, entender a trajetória de seleção e tirar o chapéu para o Angus. E o Nelore? O Nelore é simplesmente a raça que dominou as pastagens brasileiras a partir de um número muito reduzido de animais importados, já que o total de zebuínos que veio da Índia soma aproximadamente 6.300 cabeças – onde a maioria não era Nelore. Contra fatos não há argumentos, o Nelore é a raça mais presente na pecuária nacional porque é bruto mesmo! A raça se adaptou muito bem às nossas condições ambientais e, com isso, sua eficiência reprodutiva é espetacular. É importante lembrar, também, que o bezerro nascia de bom tamanho e com vigor, tolerante a endo e ectoparasitas, com impressionante produção, sem grandes exigências nos cuidados.
No processo seletivo, o Nelore é extremamente jovem quando comparado ao Angus, tem pouco mais de 100 anos de registros controlados no Brasil e vários equívocos conceituais pelo caminho da evolução da raça. Ainda assim, apresenta resultados incríveis quando o assunto é produtividade baseada em fertilidade, ganho em peso, precocidade sexual, habilidade materna e conformação frigorífica. Claro que estamos falando de uma raça jovem, sem um direcionamento tão claro quanto às prioridades na seleção, portanto, sem muito “padrão”, ou seja, com grande variabilidade genética e morfológica. Mas a “nata” não perde em nada para raças maduras como o Angus. Quando desafiada, a raça não tem apresentado limitações ao ser submetida à forte pressão de seleção, respondendo de maneira impressionante, em pouco espaço de tempo, e desmistificando conceitos mais antigos quanto à precocidade sexual e até na expressão forte de marmoreio. Interessante verificar que o tempo de seleção artificial do Angus faz com que a raça seja extremamente prepotente no cruzamento com o Nelore, já que o F1 costuma ser preto e sem cupim, mesmo apresentando 50% de seus genes de cada um dos pais.
Quando provoco com o título Angus x Nelore, é para mostrar que, na realidade, o que assistimos em uma pecuária tropical eficiente são os ganhos que podem ser obtidos com o cruzamento Nelore & Angus. Ou seja, os ganhos em produtividade pela heterose e complementaridade que permitem uma analogia com as grandes combinações que temos em nosso País como os clássicos arroz & feijão ou café com leite, que coincidem até nas cores.
Claro que devemos lembrar que aquele que explora a heterose e complementaridade desse cruzamento também precisa repor matrizes. Quanto menos bezerras Nelore nascendo, menor a pressão de seleção na reposição de novilhas – nem pense em seguir com cruzamentos subsequentes, no máximo utilizar a F1 para mais uma cruza para explorar sua precocidade e habilidade materna.
Ainda vale lembrar que o cruzado é mais exigente em nutrição e controle de parasitas, além de ser varador de cerca.
Por fim, é necessário fazer a conta de que o “pretinho” costuma receber uma premiação por qualidade e ganha muito peso, mas come muito e apresenta menos rendimento de carcaça. Em síntese, cruzamento é uma ferramenta interessante de ser explorada zootecnicamente, mas não é para todos.
Conheça a aptidão de sua propriedade e seu mercado, planeje e foque!
É, amigo, se você gosta de pecuária, não se atenha à paixão ou modismo pelo preto ou pelo branco, mas pratique sua vocação com foco e busque a melhor receita para o sucesso de seu negócio!
Vamos que Vamos!