Saiba mais sobre tudo que rola no mundo da pecuária!
Publicado em 15/05/2023
Por: William Koury Filho
O tema desta coluna é um breve resumo sobre a evolução que tenho acompanhado no zebu fora do Brasil. Esta texto é inspirado, basicamente, na minha última viagem para o México, em meados de abril.
Fui convidado para julgar as raças Guzerá, Indubrasil, Nelore e Nelore Mocho, na Exposición Nacional de Ganado Cebu, no município de Tampico, onde se encontra a sede da Asociación Mexicana de Criadores de Cebú (AMCC), no estado de Tamaulipas – divisa com os Estados Unidos. Jurados mexicanos julgaram o Gir e o Sardo Negro; o Brahman foi avaliado por juízes americanos.
As experiências no exterior me proporcionam a oportunidade de estudar ainda mais os bovinos, conhecer lugares e culturas diferentes e, principalmente, de estar e compartilhar conhecimento e amizade com pessoas – sempre num processo constante de aprendizado. Julgando, tive a oportunidade de entender melhor o rebanho da Bolívia, Paraguai, Colômbia, México e Panamá.
Essas situações se deram em função de a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) ser a grande referência para outras entidades de raças zebuínas espalhadas pelo mundo, além da própria evolução da zebuinocultura brasileira por meio dos diferentes programas de melhoramento genético.
A exceção, ou seja, onde o Brasil não é a maior referência, é a raça Brahman. Criado nos estados do sul dos EUA no início do século XIX, essa raça é resultado dos cruzamentos entre zebuínos importados de Índia, Brasil e de alguns componentes, provavelmente brasileiros, que entraram pelas fronteiras com o México. O Brahman aportou em terras brasileiras somente na década de 1990 e foi muito bem-vindo! Gostei demais quando a raça apresentou, nas pistas de Uberaba, um zebuíno mais profundo de costelas e muito musculoso, influenciando de forma positiva por outras raças de corte que passaram a considerar mais a conformação frigorífica.
O Brahman é o zebuíno mais presente em países do globo, justificado pela adaptação aos trópicos, inerente ao zebu, temperamento dócil e um desenho de carcaça que agrada – além disso, soma-se à competência dos americanos nas relações políticas e comerciais com outras nações.
Outro ponto que explica o domínio do Brahman em muitos países latino- americanos e na Austrália é que muitos dos zebuínos exportados nas décadas de 1980, 1990 e início dos anos 2000, não representavam o que realmente seria mais produtivo a campo. Esses exemplares eram adquiridos com base nos critérios de pista quando o preconizado era um animal alto, comprido e pouco profundo de costelas (principalmente o Nelore). Tais experiências não foram positivas. Houve também a comparação direta com o Brahman em relação ao temperamento, outra característica que merece atenção no processo de seleção - diferente do material genético que temos hoje em nosso país.
No Brasil, o Nelore é a raça que, na pista, mais se distancia do biótipo mais eficiente a campo, o que implica a importância de evoluirmos os critérios de julgamento. Outras raças zebuínas já apresentam, em pistas brasileiras, tamanho (frame), profundidade de costelas e musculosidade mais próximos do que a ciência indica para uma pecuária mais produtiva. É importante destacar que, em muitos dos países nos quais eu já trabalhei, mesmo o Nelore de pista está mais próximo do Nelore a campo em biótipo e genealogias.
Na maioria dos países latino-americanos, as feiras seguem como grande referência de genética e oportunidade de negócios. Assim, critérios de julgamentos por funcionalidade e produtividade, sem abrir mão do padrão racial, permanecem como fundamentais para definir o futuro das raças zebuínas. Simultaneamente, esses países devem investir com afinco na evolução e na formatação de seus programas de melhoramento genético para que este futuro seja ainda mais próspero. É isso aí! Vamos que vamos!