Saiba mais sobre tudo que rola no mundo da pecuária!
Publicado em 14/07/2022
Por: William Koury Filho
Caros leitores, o assunto da coluna deste mês segue a linha de relevância da seleção funcional para se obter os melhores resultados na produção de bovinos de corte. Na sequência das características avaliadas através da metodologia EPMURAS e tratadas nas colunas anteriores, chegamos aos Aprumos.
Os detalhes pertinentes aos Aprumos são mais difíceis de serem ob- servados visualmente pelos menos experientes. Além disso, trata-se de mais uma característica funcional não contemplada nas avaliações genéticas, o que evidencia a importância do olho clínico no curral para se “fazer gado”. Neste caso, o cuidado é o de não simplesmente produzir números, que mal interpretados poderão colapsar todo o trabalho de seleção, em que a palavra de ordem deve ser equilíbrio.
Os Aprumos são avaliados através do desenvolvimento da ossatura e estrutura de tendões e ligamentos, que resultam na correta angulação e posicionamento de membros anteriores e posteriores (mãos e pernas).
Até mesmo em raças selecionadas há mais tempo, como a Angus, a observação das pernas na compra de um reprodutor continua sendo de extrema importância, conforme pude constatar em duas visitas aos EUA – a primeira, há cinco anos; e a segunda, recentemente. Nesta última, no Texas, tive um contato maior com o Brangus e o Brahman e percebi que ambas seguem a mesma linha na seriedade à observação das “pernas” (good legs). Se os aprumos são importantes em países onde os animais são criados em menores áreas, imagina aqui no Brasil,com nossas grandes extensões de terra.
Falar da importância dos aprumos não é somente papo de jurado em pista de exposições agropecuárias. É assunto sério na seleção funcional e que tem sido negligenciado pela seleção com peso muito forte nos números através das DEPs (Diferenças Esperadas na Progênie), resumindo-se, muitas vezes, aos índices genéticos. O resultado da seleção que negligencia o olho mostra-se evidente no grande número de touros em centrais com aprumos comprometidos - defeito frequentemente associado a algumas das linhagens bastante utilizadas.
A consequência para a pecuária seletiva de não equilibrar as coisas – um olho no computador; outro, no gado – é o grande número de reprodutores descartados por defeitos funcionais de aprumos e até comercializados com pequenos senões que, possivelmente, irão comprometer a permanência e a eficiência do touro em serviço.
Falar da importância dos aprumos nos reprodutores que devem andar atrás das vacas e efetuar o salto, sustentando o peso nas pernas, é algo bastante óbvio. Não podemos esquecer, porém, que as matrizes devem ter boa base para suportar o peso do touro e para caminhar em busca de água e alimento – dinâmica importante para manter a boa condição corporal. A ocorrência de artrose, ou artrite, compromete a locomoção, a vaca emagrece e, com baixo escore corporal, não emprenha, acabando descartada por infertilidade. No entanto, a causa dessa situação pode estar nos maus aprumos.
Sempre que exponho esse tema nas rodas de conversa, palestras, cursos ou reuniões técnicas, procuro deixar muito claro que sou pró-ciência e sempre defendi e apliquei a seleção embasada por estimativas de valores genéticos e genômicos. É inegável o quanto essas informações contribuíram para um processo de seleção mais eficiente e o quanto o rebanho de corte brasileiro evoluiu nos últimos anos, principalmente a raça Nelore. Contudo, tenho de reforçar que o olho do selecionador é fundamental para dar identidade a um rebanho e não se perder a mão da funcionalidade, seja no biotipo, como para Umbigo, Raça, Aprumos e Sexualidade. Creio que passamos pelo momento mais radical de valorização das avaliações genéticas. Agora, temos de olhar para os resultados e redefinir o rumo a ser tomado. Assim, não cairemos em mais uma armadilha de ver somente um lado da moeda. Isso aí, bola para frente. Vamos que vamos!