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Publicado em 18/05/2021
Por: William Koury Filho
Caros leitores, a prosa de hoje será sobre habilidade materna, e seguirá a linha de pensamento da coluna anterior em que os índices genéticos foram colocados na berlinda pela maneira como têm sido utilizados no mercado.
E habilidade materna, que já esteve mais na moda, se é uma característica tão importante, por que é tão pouco ponderada nos índices pelos programas de melhoramento?
Para exemplificar, na ANCP representa 8% no MGTe, sendo 3% MP120 e 5% MP210; no GENEPLUS 14% do IQG para TMD, portanto, 7% para efeito materno, já que o total maternal considera 50% para efeito materno, que é relativo à parte ambiental da mãe na capacidade de gerar melhor nutrição e cuidado a seus filhos pelo leite e “carinho” e os outros 50% corresponde ao potencial direto do indivíduo para ganhar peso. Já no PMGZ, a proporção considerada é de 5% PM-EM + 5% TMD, portanto, 7,5% para efeito materno.
Legenda: MP120: maternal para peso aos 120 dias; MP210: maternal para peso aos 210 dias; TMD: total maternal a desmama; PM-EM: peso à fase materna - efeito materno.
Para começar a descomplicar um pouco esta sopa de letrinhas que é descrever as DEPs, os programas de melhoramento deveriam padronizar as siglas e a nomenclatura para as mesmas características – fica a sugestão.
Bem, voltando ao tema, se leite e cuidados da mãe são tão importantes, por que são tão pouco ponderados nos índices bioeconômicos? Quando os índices eram empíricos, e com maior participação dos criadores em sua definição, essas características eram mais valorizadas.
Sabemos que sem leite o peso a desmama será fraco, independente do potencial genético do bezerro de ganhar peso, pois para obter performance a cria precisa de comida – via leite ou via suplementação.
É importante salientar o cuidado em equilibrar a produção de leite do rebanho com seu sistema de produção, muita habilidade materna em ambiente restritivo pode comprometer a fertilidade. Isso mesmo, vaca que se doa muito para o bezerro se não tiver alimento suficiente vai emagrecendo e perdendo escore corporal e assim tende a emprenhar menos – principalmente se foram grandes e exigentes.
Outro ponto que vale ressalva, é a grande ponderação nos índices bioeconômicos para stayability, ou capacidade de permanência da matriz no rebanho, pois as fêmeas que se doam menos para sua cria (produzem menos leite), têm mais chance de emprenhar baseado em melhores escores corporais.
O objetivo aqui é mostrar diferentes visões para que fique claro o quanto informações genéticas são complexas e, portanto, devem ser criteriosamente interpretadas para tomada de decisões mais assertivas.
Para mim, a capacidade de desmamar um bezerro pesado é fundamental, devendo ser critério de descarte fenotípico sem pestanejar – vaca de bezerro fraco deve sair no processo de seleção.
Antigamente a seleção era baseada em conhecimento de indivíduos, linhagens e famílias que traziam a “fama” de serem melhores e piores de leite. Hoje essa informação pode ser interpretada pelas avaliações genéticas e genômicas a partir de DEPs (Diferenças Esperadas na Progênie) geradas a partir de um banco de dados fenotípico e marcadores moleculares do desempenho durante a fase pré-desmama. Esses valores estimados por modelos estatísticos visam identificar o quanto desse peso é de efeito materno (ambiente da mãe) e o quanto é de efeito direto, dependendo do potencial próprio do bezerro, e ainda excluindo os efeitos ambientais para que a genética de diferentes rebanhos possam ser comparadas.
Pois é, meus amigos, não é algo tão simples assim, por isso repito que nem as avaliações genéticas e nem as genômicas são verdades absolutas, são estimativas e não consideram ambientes específicos. Hoje creio ser impossível não usar a tecnologia das DEPs, mas não podemos desconsiderar a tecnologia CURRAL, também conhecida como tecnologia IR, citada pelo Prof. Zé Bento (USP), em memória do Dr. Armindo da EMBRAPA, cujo conceito é definido como: tem que ter IR na fazenda, caramba, e conhecer seu rebanho!
Caros leitores, vocês sabem claramente que não estou brincando com coisa séria. Sou partidário do equilíbrio em aproveitar o melhor da sabedoria de gente que põe a mão na massa, com o conhecimento contemporâneo gerado por grandes pesquisadores da área que se traduzem em ferramentas eficientes. E viva a mudança de paradigmas!
E você, caro leitor, que peso daria para habilidade materna em seu índice de seleção?
É isso aí, vamos que vamos!