Saiba mais sobre tudo que rola no mundo da pecuária!
Publicado em 24/10/2022
Por: William Koury Filho
Prezado leitor, escrevo a coluna do final do mês de setembro antecedendo as eleições, momento tão importante para a história do Brasil. Do outro lado do mundo, a Rússia parece estar em total descompasso com a realidade, tendo em vista as barbaridades proferidas pelo seu líder, em pleno século XXI.
Bom, mas como minha especialidade não é geopolítica, vamos falar de pecuária, atividade que vivencio desde criança – ou seja, há bastante tempo.
Esta semana estive presente no COMCEBU (Congresso Mundial de Zebuínos), que aconteceu em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Lá, encontrei amigos de várias partes do mundo, gente que participa da minha vida nesses vinte e sete anos dedicados à Zootecnia.
Nessa diversidade de culturas, em rodas de conversas envolvendo pessoas de vários países, muitas vezes me perguntam: William, qual a melhor raça de bovinos?
Especificamente nesse congresso o tema era o zebu, em espanhol cebu, mas podemos pegar o gancho e ampliá-lo para refletirmos sobre qual seria a melhor entre todas as existentes no mundo: zebuínos, taurinos, sintéticos e compostos.
Certamente que existem outros grupos de bovídeos, minha proposta não é dar uma aula de Zoologia, mas, sim, focar em um conceito importante definido por funcionalidade. Funcionalidade, eu definiria como capacidade de desempenhar uma função com eficiência.
Essa função pode ser produzir carne nos trópicos, carne em clima temperado, leite em regiões quentes ou leite em regiões de grande altitude, por exemplo. Nesta linha, podemos ser ainda mais específicos: produzir carne em ambiente quente, com pastagens fartas ou em regiões de pouca chuva. Podemos ainda definir a função de se apresentar em pistas de julgamento ou ser criado de forma extensiva. Em resumo, fica muito claro que existem muitas possibilidades de ambientes e objetivos específicos.
A seleção artificial, conduzida pelo homem, muitas vezes, prioriza a estética, sobrepondo a eficiência produtiva. Claro que também há o melhoramento genético em que a seleção busca otimizar uma função – produção de carne ou leite.
A seleção artificial é muito diferente da seleção natural, em que somente os mais fortes proliferam – entendendo como fortes, os mais adaptados.
Na seleção natural, as espécies vão se definindo morfologicamente para serem mais eficientes em se alimentar, reproduzir, bem como menos susceptíveis a doenças.
Uma das belezas funcionais de um grande felino como o leão é a habilidade de caçar, assim como a de um antílope é a de escapar do predador. Cada uma dessas espécies foi moldada morfologicamente por milhares ou milhões de anos. No caso dos bovinos, houve um tempo em que também eram presas na natureza e tinham sido moldados para sobreviver.
Hoje, as centenas de raças bovinas existentes no planeta foram moldadas para desempenhar uma função: um dia pode ter sido tração, algumas por estética, mas a maioria para produção de leite ou carne.
O título provocativo traz no final dessa coluna a conclusão óbvia de que não existe e nunca existirá uma raça bovina melhor para todas as possibilidades de climas e objetivos, mas que existem algumas que se destacam e, com isso, vão se tornando mais numerosas. Vale dizer que a proporção de muitas raças, com relação ao rebanho mundial, já mudou muito ao longo do tempo.
Assim posso afirmar que não existe a melhor raça, mas sim os melhores indivíduos dentro de cada raça e que, no futuro, as raças que dominarão o setor produtivo dependerão dos rumos tomados no processo de seleção e adequação às mudanças nos sistemas de produção e demandas da humanidade.
Tal como na seleção natural, somente aquelas mais funcionais existirão em grande número no futuro. Somente os mais “fortes” sobreviverão! Vamos que vamos!